3 poems in Portuguese by A Bacana, translated by Joana Gomez & Michel Kabalan

http://www.abacana.com/oficial/tres-poemas-de-danae-sioziou-traducoes-de-joana-gomes-e-michel-kabalan?fbclid=IwAR3Br-Ulz9TsIqud8zNE5LcPV1MdiX8uv1M4VqQ0OE5RIeXKXsJduFLzhoo

Οικιακά – Trabalhos domésticos

Se calhar não percebeu
E nem reparou
mas continuou a cortar as mãos
depois de descascar as pêras.
O sangue fluiu com gentileza
pelas linhas do destino da vida do coração
até ao ralo
rodopiando entre pratos sujos e restos de comida.
Aproximou-se inquieto
o seu gato
com uma compaixão sincera
começou a lamber as feridas
enquanto por um breve momento
ela se contemplou no reflexo vítreo dos olhos felinos
uma estrangeira
presa numa gaiola suja
um telhado que não conhece o nascer do sol
pequenos besouros no chão
e na pia as mãos encharcadas num lago escuro
que agora brilha
coroado com a espuma branca do detergente.
Das profundezas da pia
nascem todas as luas cheias
as luas brancas
pensou
deixa-me ao menos acabar a louça hoje

Danae Sioziou (Grécia, 2008)
Publicado em  ‘Austerity Measures: The New Greek Poetry’ (NYRB Poets, 2017)

*

Um assalto (2018)

Ao abrir a porta da minha casa
vejo que a poesia é um privilégio
como os brinquedos caros da infância
ou a enésima audição da tua música favorita
em condições acústicas perfeitas
como um beijo dado pelo amor da tua vida
como milhares de póneis brilhantes
como a vida noutros planetas
como o mel que se dissolve completamente numa chávena de chá
como rebanhos de trovões à distância
Eu gosto de escrever poemas
porque escuto o começo da minha morte
mesmo que as pessoas não gostem ouvir poemas
Eu gosto deste som
a maneira como se põe em ordem as palavras
a maneira como assaltam uma casa segura
Gosto de escrever poemas
a maneira como os gatos gostam de se lamber ao sol
e eu quero ser boa nisso.
eu quero ser boa nisso.

*

A Flecha (2010)

Anda cá e brinca comigo. Desabotoa os meus botões um por um e por cada um deles contar-te-ei um sonho. Verás como as minhas costas nuas formam um arco. Por desenhar. Quando puderes, tenta esculpir aqui, peço-te, uma flecha.

publicado em ‘Useful Children’s Games’, Harlequin Creature, New York 2016

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s